Noites de Arte onde a Cultura é a raiz





Muita gente que frequenta as noites animadas aqui do Espaço Cultural 512, não conhece a história do bairro que o acolhe e que é considerado o mais boêmio de Porto Alegre, reduto de bares, restaurantes, festas e de toda uma efervescente movimentação cultural nas noites da cidade. Nosso espaço hoje ocupa três casarões antigos da rua João Alfredo –nº 512, 506 e 500, no bairro Cidade Baixa. O mais antigo deles, e onde nossa história começou há 13 anos, é o de número 512 que completa 100 anos em 2026. Os outros dois vêm na sequencia reunindo boas dezenas de anos. E é dentro deste ambiente – cheio de energias e histórias – que tudo aqui vêm acontecendo.

Caminhando pela vizinhança, é possível identificar outras inúmeras casas antigas que datam da mesma época e que guardam em suas paredes, uma vida de transformações.  E foi justamente toda esta atmosfera que reúne tantas questões culturais e sociais até hoje, que nos despertou o interesse em mergulhar fundo e conhecer um pouco melhor deste bairro e desta rua, ponto de encontro dos tantos apaixonados pela cena cultural da cidade. 


Sobre a história do bairro

O território que hoje é conhecido como bairro Cidade Baixa já recebeu vários nomes, como: Arraial da Baronesa, Emboscadas, Areal da Baronesa e Ilhota. Ao longo do século XIX, era chamado de Arraial da Baronesa, fazendo alusão a uma grande extensão territorial ocupada por uma chácara de propriedade da Baronesa de Gravataí. A mansão localizava-se onde hoje é Fundação Pão dos Pobres, na (hoje) rua da República. Toda esta região era tomada por propriedades semi-rurais, que tinham como base produtiva a mão de obra escrava. Escravos estes quando fugiam de seus senhores, escondiam-se nos matos que tomavam conta de toda esta região, que por isso também ficou conhecida como “Emboscadas”. 

Conta-se que em 1879, após um incêndio, a Baronesa loteou e vendeu suas terras, que passaram a ser habitadas pelos negros libertos e por famílias italianas. Desta forma, o território passou a se chamar “Areal da Baronesa” e até metade do século XX, o que hoje é a Cidade Baixa, continuou sendo reduto desta população que acabou construindo, mesmo na miséria, cada parede e cada telhado desta região. A maioria deles residia mais especificamente numa área conhecida como Ilhota, local bastante insalubre, onde sistematicamente ocorriam inundações. 

Essas áreas fazem parte da história de Porto Alegre e são a raiz de toda a herança cultural que vemos aqui e que é tão rica e diversificada. É neste lugar que começou a se instaurar os batuques, as danças, os ritmos e todas as festas organizadas pelos segmentos negros da população. E foi exatamente nestes locais, onde se criaram e foram descobertos alguns dos músicos e compositores mais importantes do país, como o mestre Lupicínio Rodrigues, além de jogadores de futebol que tiveram grande destaque, como o jogador Tesourinha. 

Com o passar do tempo, em meados do século XX, a população que habitava a região teve um aumento muito significativo em função do desaparecimento das últimas chácaras e da instalação de algumas indústrias, de igrejas e de dois cinemas – o Garibaldi e o Avenida. Era cada vez mais presente os espaços voltados para a cultura, principalmente, a cultura do povo negro, com todas as influências vindas da África e que foram fundamentais no desenvolvimento de toda nossa estrutura cultural/social.


Das transformações ao que somos hoje

Hoje somos um bairro habitado por uma população heterogênea, e que reúne uma série de símbolos deste passado, como o Ginásio de nome “Tesourinha”, o complexo habitacional denominado “Lupicinío Rodrigues”, o Solar Lopo Gonçalves que é sede do Museu de Porto Alegre, a Fundação Pão dos Pobres, o Largo Zumbi dos Palmares, a Ponte de Pedra, a Travessa dos Venezianos, entre outros. E é neste espaço cercado de história e de cultura por todos os lados, que há 13 anos nós escolhemos estar. Fomos abraçados pelo enredo de toda esta história de lutas e sorrisos e tentamos levar adiante a essência deste bairro promovendo o encontro de pessoas, a sinergia entre as mais variadas artes e a valorização da cultura.



E você já conhece o Espaço Cultural 512? 

Estamos na R. João Alfredo, 512.